PRINCIPAIS FOCOS E FONTES DE QUEIMADAS NO BRASIL E SUAS CAUSAS

Graças aos esforços da pesquisa científica nacional, o país possui hoje uma visão precisa do problema das queimadas. O monitoramento revela a existência de cerca de 300.000 queimadas por ano, em todo o país. Sua origem é essencialmente agrícola e em geral ocorrem em áreas já desmatadas, com padrões espaciais diferenciados e dinâmica temporal variável.

No âmbito do Programa de Monitoramento, Prevenção e Controle das Queimadas na Agricultura do Ministério da Agricultura e Abastecimento foi solicitado à Embrapa Monitoramento por Satélite um estudo visando caracterizar as áreas mais críticas em termos de ocorrência de queimadas no Brasil. A pesquisa considerou a concentração espacial e temporal das queimadas, suas tendências evolutivas e teve como enfoque vários recortes espaciais (estados, municípios, ecossistemas, bacias e eixos do PPA).

Para execução do trabalho foi estruturado um Sistema de Informações Geográficas (SIG) onde analisou-se 10 anos de dados orbitais (1991-99) de queimadas e montada de uma base de dados digital para apoiar a ação nacional do Ministério da Agricultura, contendo: divisão estadual e municipal; bacias; ecossistemas e as áreas dos Eixos do PPA. Os padrões espaciais e temporais das queimadas entre 1997-1999 foram particularmente detalhados.

Nesta pesquisa, estudou-se prioritariamente as queimadas entre junho a novembro. Considerou-se queimadas inequívocas e realmente preocupantes, que atingem uma certa magnitude e em geral, ainda estão ativas no início da noite, bem como a intensidade e a constância temporal ou não, do evento em cada local. A unidade espacial básica foram quadrículas de 10 km por 10 km.

Identificou-se os locais mais atingidos pelas queimadas, qualificou-se os que sempre queimaram nos três últimos anos e aqueles onde as queimadas aumentaram ou diminuíram. O resultado foi analisado em função dos recortes temporais (mês a mês e por período) e espaciais (região, estado, município, bacia, ecossistema e eixos do PPA), num total de 360 mapas. Dois exemplos resumidos desses mapas podem ser observados nas figuras 5 e 6.

Figura 5

Figura 6

Aumento crônico do número de queimadas

O monitoramento orbital indica que o número de queimadas segue com tendência de crescimento anual, tanto em termos espaciais como em intensidade, mesmo se ocorrem declínios em alguns locais ou regiões. Na Bacia Amazônica, o índice de incidência de queimadas por quadrículas de 100 km2 passou de 4,5 queimadas em 1997 para 7,5 em 1999. No Complexo do Pantanal, principalmente em sua região norte, esse mesmo índice passou de 2 queimadas para 8 queimadas por 100 km2. A região Centro-Oeste passou de 37% das queimadas do país em 1997 para 48% em 1999.

Dimensão geográfica do problema

Os mapas elaborados indicam que trata-se de um fenômeno nacional, vinculado essencialmente à atividade agrícola, mas com importante variabilidade espacial e interanual. A Amazônia Legal, por exemplo, concentra mais de 85% das queimadas que ocorrem de forma constante no Brasil. Nas outras regiões, o padrão espacial também é descontínuo e mais difuso, com áreas de maior ou menor concentração. A região Centro-Oeste concentra mais de 35% das queimadas, seguida pelo Sudeste (29%) e Norte (24%). Os Estados que mais contribuíram nos últimos três anos são: Mato Grosso (38%), Pará (27%), Maranhão (10%) e Tocantins (7%).

Situações Críticas Identificadas

As áreas muito críticas em termos de queimadas estão situadas no Mato Grosso (20 municípios), Pará (12 municípios), Maranhão (12 municípios) e Tocantins (23 municípios). Em cada estado, esses municípios contribuem para 50% das queimadas. Nos mapas 1, 2, 3 e 4 pode-se observar sua localização espacial, em dois grupos: os que primeiro contribuem para 25% do total das queimadas e os restantes para completar 50%. Tratam-se de áreas prioritárias para a busca de alternativas tecnológicas ao uso do fogo e para uma campanha de mídia e de educação ambiental.

Mapa 1

 

Mapa 2

Mapa 3

 

 

 

Mapa 4

Também foram identificadas áreas críticas onde o padrão espacial das queimadas é mais difuso mas onde o número de queimadas vem aumentando, e/ou acontece próximo a áreas de preservação e/ou ainda associado a novos desmatamentos. Foram identificadas áreas de Rondônia, Piauí, Minas Gerais e na região oeste da Bahia. Os processos agrícolas existentes nesses Estados são bastante diferentes e exigem um tratamento diferenciado. Também foram identificadas situações especiais, mais localizadas, onde as queimadas aumentaram nos últimos anos, em geral vinculadas com mudanças no uso das terras, como no vale do Cariri no Ceará, no norte do Mato Grosso do Sul e, principalmente, em São Paulo que passou a contribuir com cerca de 4% das queimadas do país contra 2,5% em períodos anteriores.

Além das áreas críticas, o monitoramento orbital indica um padrão nacional difuso de queimadas, realizadas em áreas de agricultura e pecuária extensivas ou a casos onde, periodicamente, os agricultores queimam em intervalos de 2 a 5 anos. Junto com as alternativas tecnológicas para o uso do fogo, o tema de como melhorar esse uso, ou a queimada controlada ou ainda manejada será fundamental nesses casos.